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A facilitação do livre movimento das coisas
Márcia Thomazinho (1)
Sobre 2015, 2016 e 2017, anos vividos como muitos. Tempo de entrar formalmente no Instituto Fonte, tempo de selar um namoro que já vinha se desenhando há algumas primaveras, tempo de ir além do lugar “seguro” da gestão de uma OSC e me entregar também à prática da consultoria e da formação.
Pela formação eu já vinha transitando, mas na consultoria, ah, como eu resisti em me dizer consultora, como se a palavra tivesse um peso desproporcional em relação ao que eu queria realizar no mundo. Parei de resistir e me entreguei, dizendo para mim “tudo bem, você pode experimentar isso por um tempo, não tá escrito na pedra”…
E de experimentar essa prática me vieram incontáveis lições, num processo intenso de aprendizagem pela prática, que me virou do avesso e me colocou no “direito” novamente… ou que me mostrou o “direito” que há no avesso.
Nessa aventura de me ver consultora, me ver “facilitadora de processos”, tive a alegria de me encontrar em processos muito ricos, com organizações sólidas e ativas, desejosas por um processo de mudança ou por simplesmente conseguir enxergar mais à frente ou por extrair aprendizagens de uma experiência.
Ao me colocar no lugar de quem facilita processos pude aprender a me colocar ao lado dessas organizações, dessas pessoas e construir com elas um caminho que fizesse sentido, sem chegar com nada muito “pronto” ou “pré-definido”, mas me dispondo a fazer com elas uma leitura do processo que estavam vivendo e sobre qual seria o próximo passo.
Experimentei deixar de lado muitas certezas, aprendi a “segurar de levinho” (expressão precisa que aprendi com Tião Guerra) aquilo que eu já sabia ou aquele desejo que trazia comigo.
Experimentei ter planejado tudo bonitinho e chegar na hora e ver que a coisa tomou outro rumo e que talvez nada daquilo que estava planejado fizesse mais sentido, e a me perguntar ali, ao vivo, ‘qual o próximo passo então? ’. Esse passo só pode emergir do próprio processo, mas ele não é tão óbvio, é preciso desenvolver olhos para ver e uma espécie de confiança e de abertura capazes de sustentar aqueles minutos em que todo o meu plano foi jogado fora e eu ainda não sei o que fazer à frente.
Isso me lembra de algo que aprendi nos meus estudos sobre as Constelações Sistêmicas: a atitude fenomenológica ou a capacidade de ver o “campo” implica em saber que só se pode ver até o próximo passo… isso é tudo o que nos é permitido ver… Ah, e como é difícil sustentar isso! Nossa mente foi treinada para solucionar problemas, para desenhar caminhos, mecanismos e soluções para as coisas. Mas, e quando a gente não quer necessariamente solucionar nada, mas só ajudar a acontecer o próximo movimento possível, o próximo movimento preciso? Aí essas soluções não cabem, ou há um grande risco de elas sobrepujarem aquilo que o processo de fato pede. É preciso se conectar com o que é vivo nos processos para conseguir “facilitar” o seu fluxo, o livre movimento dele em direção ao seu próximo momento. E como? Usando que instrumento? Em grande parte usando a mim e ponto. Uau!
Facilitar o livre movimento pede de nós uma qualidade de confiança e abertura sem igual. Não é algo que eu planejo, nem um “lugar” para o qual eu vou quando desejo ir, não tem botão de “liga e desliga” e nem é algo que se conquista e “pronto, já posso descansar”… nada disso… é um contínuo… é uma prática, algo que me pede presença e dedicação.
Lembro-me de uma fala do Allan Kaplan no Programa Artistas do Invisível, na qual ele trata da facilitação de processos explicando que o grande trabalho não é facilitar, mas sim toda a preparação contínua e necessária para estar ali.
Hoje compreendo profundamente que essa preparação não diz respeito a fazer bons planejamentos, desenhar bons “PPTs” ou bons exercícios, mas sim estar profundamente afinado como o instrumento. Isso é uma “prática”, um exercício mesmo, não é nada que você aprenda com os livros, nem algo que você alcance e pronto, já não seja preciso mais nenhum esforço.
Não. Pede atenção plena, pede presença, pede conexão, pede sintonia, um tipo de sintonia fina que só se consegue estando pronto a mudar, a deixar a ir, a aprender, sempre.
Ah, que bom poder ter me colocado no caminho desta “prática”! Quero cada vez mais conseguir me dedicar a ela com disciplina e constância em quaisquer processos nos quais estiver implicada, afinando constantemente meu instrumento. Que venham mais anos de prática!
Este artigo integra o Relatório de Gestão 2015-2016, um importante instrumento de reflexão e aprendizagem do Instituto Fonte. Para ler outros textos ou baixar o relatório, clique aqui.
(1) Consultora associada do Instituto Fonte desde 2015. Atua em processos de desenvolvimento/aprendizagem organizacional, sistematização de experiências e a investigações no campo do desenvolvimento. Está no campo do Desenvolvimento há 15 anos, onde já atuou na gestão organizacional e de projetos em organizações como: Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental e Instituto de Cidadania Empresarial. Bióloga, formada pela Universidade Mackenzie, pós-graduanda no programa “Reflective Social Practice” pelo Crossfields Institute (UK) e Alanus University (Alemanha). Tem diversas formações técnicas em Gestão de Organizações do Terceiro Setor e Gestão/Avaliação de Projetos e, mais recentemente, vem se dedicando a formações relacionadas ao Pensamento Complexo e Sistêmico aplicado a processos sociais, como as Constelações Sistêmicas e o Programa Artistas do Invisível. Cursou o programa Profides – Profissão Desenvolvimento entre 2009-2010 (do qual foi posteriormente co-facilitadora na 6ª edição, entre 2011 e 2012). Contato:marcia@institutofonte.org.br

A ressignificação das práticas sociais
Juliana Cortez (1)
Meu interesse e minha atuação no campo social foram marcados por uma formação em empreendedorismo social que realizei, em 2001, em parceria com o Instituto Gaia. Começava o século XXI ao mesmo tempo em que o universo do campo social se revelava diante de mim. Empreendi iniciativas de formação para Juventude como o projeto Guardiões do Oceano e também comecei a buscar formações nas quais eu mesma pudesse me formar.
Comecei a carregar comigo um questionamento: Afinal como eu aprendo o que apreendo? Esse questionamento surgiu à medida que me percebia como educadora e facilitadora de pequenos grupos de adolescentes, ao mesmo tempo em que um sentimento de responsabilidade crescia em meu peito. Os modelos de aprendizagem formal haviam me ensinado a memorizar e a passar em provas e vestibulares, mas algo em mim dizia que memorizar não era aprender a pensar de fato.
Em 2002 uma colega, Mariana, que me auxiliou a desenhar a proposta pedagógica do Guardiões do Oceano, me introduziu um jeito novo de produzir e compartilhar conhecimento. Eu disse que queria saber mais, e ela me indicou para participar do Seminário de Pedagogia Social, no qual membros do Instituto Fonte também estavam presentes no grupo facilitador. Foi nessa imersão que entrei em contato com formas participativas de aprender: o conhecimento estava no grupo e não somente no facilitador/educador.
O Instituto Fonte tornava-se conhecido como uma instituição com grande capacidade de formar e influenciar atores e instituições do terceiro setor, que se encontrava em significativa expansão. Ele orbitava o meu campo de atuação e eu orbitava a prática social dele. Foram muitos os encontros: em livros e publicações, em formações, em congressos, em pessoas. Hoje eu não orbito tão somente, mas sou parte do Planeta Fonte como uma de suas consultoras associadas.
O campo social já não é o mesmo de outrora, mas se encontra mais preparado, mais consciente, e ao mesmo tempo, tem que aprender a lidar com incertezas de outra natureza, diferentes daquelas dos anos 2000. Estamos atualmente com os sentidos em alerta para entender o que o mundo pede de nós enquanto organização, enquanto consultores, facilitadores e empreendedores…
Que a trajetória dessa geração que ingressa no campo social possa contribuir com esse processo de ressignificação das iniciativas sociais, do campo social e, principalmente, de nossa própria prática como profissionais de desenvolvimento.
Este artigo integra o Relatório de Gestão 2015-2016, um importante instrumento de reflexão e aprendizagem do Instituto Fonte. Para ler outros textos ou baixar o relatório, clique aqui.
(1) Facilitadora de processos de aprendizagem e associada ao Instituto Fonte desde 2015. Desde 2002 atua em iniciativas e instituições sociais que militam pelas causas da juventude, educação e do meio ambiente nas áreas de formação, elaboração de projetos e mobilização de recursos. É idealizadora e gestora do Guardiões do Oceano, uma iniciativa de formação socioambiental para jovens que acontece há 10 anos em municípios do litoral de São Paulo. Também atuou como facilitadora na área de responsabilidade social de diversas empresas. Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, com pós-graduação em Educação Ambiental pela mesma universidade e especializada em gestão do terceiro setor pela FGV. Se formou nos programas do Instituto Fonte, Artistas do Invisível e Aprimora e atualmente é mestranda no Programa “Reflective Social Practice” pela Proteus Initiative e Alanus University (Alemanha). Acredita que o processo é o lugar a se chegar. Contato: juliana@institutofonte.org.br

Geração Coletivos: tempo para refletir sobre transformações para o mundo
Dia 21 de outubro, o espaço Cita – Cantinho de Integração de Todas as Artes – acolheu um grupo de jovens para juntos compartilharem suas alegrias e inquietações diante das transformações que procuram para si, para seus empreendimentos e para o mundo.
O Encontro Geração Cidadã propôs diferentes dinâmicas com o objetivo de favorecer a percepção sobre seus empreendimentos. Cerca de 20 participantes puderam explorar a noção de “sustentabilidade” para além dos pilares financeiros e de impacto, focando o pilar principal de sustentação das iniciativas: a/o empreendedor, a/o ativista.
Juliana Cortez, coordenadora e uma das idealizadoras do projeto ao lado de Ivy Moreira, conta que o Geração Coletivos tem como proposta reunir empreendedores socioculturais e negócios de impactos sociais das regiões periféricas da cidade de São Paulo. “O intuito é criar pontes, conexões, além de promover uma reflexão aprofundada sobre o que os diferencia e o que os une”, explica.
Diferentes iniciativas, relacionadas a arquitetura periférica, brinquedos lúdicos, eventos culturais da periferia, vídeo, mobilização, arte, cultura e esportes, compuseram o grupo. As vivências trataram sobre «o cuidar de si», «do outro» e como é possível expandir esse cuidado aos sonhos, ideais e iniciativas nas quais participam os jovens. Juntos, foi possível revelar e debater algumas premissas que têm sustentado as iniciativas de transformação sociocultural nos dias de hoje, a partir das percepções dos próprios jovens, como:
“Quanto mais você acreditar no seu propósito, mais vai atrair uma rede que te ajude a sustentar sua iniciativa.”
“É importante cultivar o modo ativista para manter a atenção e evitar cair no modelo automático e de tempos em tempos se distanciar, se descolar da sua iniciativa, questioná-la. Muitas vezes nós tornamos reféns do próprio sistema instalado que questionamos.”
“Há uma motivação de se manter no limiar da transformação social mesmo estando ciente de todos os dilemas e contradições que esse lugar desperta”.
“Há uma vontade profunda em fazer diferente e encontrar meios para fazer diferente”.
“Eu sou o ator principal de toda essa sustentação, e eu preciso ter espaços para me cuidar, preciso de espaços de respiros, de fortalecimento, de reconhecimento para seguir adiante”.
“Preciso prestar atenção no radicalismo de querer sair de uma caixa a qualquer custo e acabar caindo em outra caixa. O mais importante é criarmos uma teia de sustentação, mesmo que para isso eu estabeleça conexões com pessoas que não necessariamente pensem como eu”.
Haverá mais um encontro, também com formato semelhante. Mas é necessário ficar atenta/o para quando abrirem as inscrições, pois as vagas são limitadas a um grupo de até 20 participantes. O Projeto Geração Coletivos é uma realização do Instituto Fonte em parceria com o Instituto Geração. É coordenado por Juliana Cortez, com a colaboração de Ivy Moreira, Tati Piva e Luciana Leo.
Sobre o local: O espaço Cita é um centro de coletivos artísticos que reúne uma galera incrível de diferentes iniciativas que vale a pena conhecer. Fica na Rua Aroldo de Azevedo, 20 – Jardim Bom Refúgio.
Quer conversar com a gente, tirar dúvidas ou conhecer mais sobre o projeto, mande e-mail para: geracaocoletivos@gmail.com
Sobre o projeto Geração Coletivos:
O projeto Geração Coletivos (PGC) é um programa de fortalecimento de iniciativas e coletivos liderados por jovens entre 18 e 35 anos da cidade de São Paulo. Pretende criar espaços de diálogo e reflexão entre os participantes para a promoção do desenvolvimento pessoal e da sua iniciativa, fomentando a criação de uma rede que expanda e fortaleça o campo de atuação de tais coletivos.
Atua por meio de uma abordagem fundamentada no desenvolvimento de habilidades sociais, bem como da prática da observação, possibilitando ao participante realizar leituras de processos contextualizadas e aprofundadas ao mesmo tempo que se desenvolve como agente de transformação social.

Inscrições abertas para Encontro Geração Coletivos
Como é sustentar iniciativas de transformação socioculturais no contexto atual?
O projeto Geração Coletivos convida você, que tem entre 21 e 35 anos, empreendedor de iniciativas socioculturais, a participar de um encontro entre pares para que juntos possamos trocar experiências e ampliar nosso entendimento sobre as delícias e os desafios de promover a transformação sociocultural no momento atual.
Iremos nos inspirar em vivências sobre «o cuidar de si», «do outro» e como expandimos esse cuidado aos nossos sonhos, ideais e a nossas iniciativas, no contexto atual.
O projeto Geração Coletivos é uma iniciativa do Instituto Geração e Instituto Fonte.
Quando: Sábado, 21/10 das 9h00 às 17h00.
Onde: Espaço Cultural Cita
Rua Aroldo de Azevedo, 20 – Jardim Bom Refúgio
É necessário preencher a ficha de inscrição, pois as vagas são limitadas!
Quer conversar com a gente, tirar dúvidas ou conhecer mais sobre o projeto, mande e-mail para: geracaocoletivos@gmail.com
Sobre o projeto Geração Coletivos:
O projeto Geração Coletivos (PGC) é um programa de fortalecimento de iniciativas e coletivos liderados por jovens entre 18 e 35 anos da cidade de São Paulo. Pretende criar espaços de diálogo e reflexão entre os participantes para a promoção do desenvolvimento pessoal e da sua iniciativa, fomentando a criação de uma rede que expanda e fortaleça o campo de atuação de tais coletivos.
Atua por meio de uma abordagem fundamentada no desenvolvimento de habilidades sociais, bem como da prática da observação, possibilitando ao participante realizar leituras de processos contextualizadas e aprofundadas ao mesmo tempo que se desenvolve como agente de transformação social.
*Foto de abertura: Pixabay, 2017.

Sobre o nível de certeza no monitoramento de indicadores no contexto nacional
Luciana Petean (1)
É notável o uso cada vez mais corriqueiro de indicadores no nosso dia-a-dia. Basta percorrermos uma página de jornal e veremos a infinidade de dados quantitativos que permeiam e orientam nosso cotidiano.
Até mesmo no campo social, os indicadores constituem ferramentas legítimas para comunicar estados ou situações observáveis, permitindo comparações entre diferentes grupos, contribuindo para fundamentar ou até mesmo ajustar decisões e mudanças de rota.
No entanto, é preciso considerar que existem limitações atribuídas ao uso de indicadores. É preciso considerar a tendência de se tentar reduzir fenômenos complexos às suas partes mais simples ou visíveis, muitas vezes apresentadas por meio de números que pouco conseguem informar sobre a natureza subjetiva desses fenômenos.
Existem aspectos não visíveis, relativos à cultura local, à tradição ou mesmo ao processo de governo vigente, que podem influenciar ou determinar sua variação.
Outra questão relevante é a confusão entre o significado estatístico e o significado prático no monitoramento de programas. Podemos identificar claramente, no caso de algumas organizações, uma preocupação preponderante com o primeiro tipo, o que traz consequências e limitações na atribuição de significados à realidade social. Pois “se um estudo dispõe de uma amostra grande o suficiente, qualquer diferença aferida entre médias ou percentuais, por menor que seja, será estatisticamente significativa, mesmo que praticamente irrelevante”.
Dessa forma, o que em determinado contexto pode ser observado como um grande avanço, em outros, talvez, pode significar apenas um pequeno passo em direção a um objetivo muito maior. Vale destacar também que “qualquer interpretação está sempre carregada da visão de mundo, bagagem intelectual ou ideológica de quem a faz”.
Sem dúvida, o uso irrestrito de indicadores sociais como instrumento de ‘ranking’ entre diferentes cidades pode representar um grande risco, a despeito da diversidade geográfica, demográfica, cultural e mesmo histórica, encontrada nesses contextos. No entanto, poucas são as equipes que dedicam tempo e energia na construção de indicadores sistêmicos relevantes e preocupam-se com sua adequação no tempo.
Em geral, são privilegiados os aspectos tangíveis e visíveis, deixando de fora os elementos qualitativos e de natureza subjetiva, que tendem a perder relevância por pressão de tempo ou de recursos.
Nesses casos, é comum ainda prevalecer na organização a percepção da avaliação de programas como uma prática predominantemente técnica, que demanda a contratação de especialistas gabaritados, que conduzem a aferição dos resultados de maneira isolada ou à distância e emitem pareceres e recomendações. Para o Instituto Fonte, entretanto, são as próprias organizações que melhor conhecem a situação em que vivem e atuam.
Percebemos que existe muito conhecimento na prática cotidiana das pessoas e, a partir de processos participativos, buscamos favorecer uma oportunidade única de construir capital social nas organizações. Nesses espaços, a aprendizagem coletiva e a ampliação de habilidades técnicas permitem que as práticas organizacionais e sociais se tornem mais consistentes e relevantes e, assim, contribuam para o fortalecimento da iniciativa.
Este artigo integra o Relatório de Gestão 2015-2016, um importante instrumento de reflexão e aprendizagem do Instituto Fonte. Para ler outros textos ou baixar o relatório, clique aqui.
(1) Consultora e facilitadora de processos, bacharel em Administração de Empresas. Trabalhou em consultoria empresarial por mais de 9 anos, atuando fortemente em processos de Mudança Organizacional, Redesenho de Processos e Tecnologia da Informação. Foi gerente de consultoria da Price WaterhouseCoopers, atuando no Brasil, Argentina, Inglaterra e Estados Unidos. Morou na Austrália por quase dois anos, onde participou do Seminário de Formação de Professores da Pedagogia Waldorf. Especializou-se em Biografia Humana e da Arte, conhecimento que aplica em sua prática social. Mora em São Paulo (SP). Contato: luciana@institutofonte.org.br
Foto: Pixabay (2017)

Como é possível agir diante da ameaça das queimadas?
Ações de formação e articulação, como a experiência dos Nudecs, podem inibir a incidência de comportamentos de risco
A ameaça das queimadas é muito comum no inverno, quando, junto com a temperatura, também caem os índices de humidade do ar. Umas das funções do Núcleo Comunitário de Defesa Civil (Nudec), além de articular a comunidade para atuar em momentos de risco diante dos desastres socioambientais, é favorecer a ação de agentes locais capazes de intervir em momentos e situações de risco.
Roberta Dutra, articuladora de 10 diferentes Nudecs pelo Projeto Fortalecendo a Resiliência aos desastres na Região Serrana do Rio de Janeiro, explica que é possível perceber o resultado do trabalho quando as pessoas começam a trazer os relatos de situações reais.
Um caso importante está relacionado ao Nudec da Posse, localizado no Distrito com o mesmo nome. Lá, o grupo, que já está iniciando as ações de formação na comunidade, identificou situações de risco e planejou a primeira intervenção direta. Devido à região ser rural, com agricultores que ainda usam, erroneamente, a queimada do solo para renovar a plantação e onde ainda é comum o hábito de colocar fogo no lixo, as queimadas representam um grande risco nessa época de estiagem.
Os integrantes do Nudec convidaram a Defesa Civil do município, pois desenvolvem a Campanha Queimada Não. No centro do Distrito, em uma rua com muita circulação, moradores, estudantes, equipe do projeto fizeram uma ação pública para informar sobre leis e sensibilizar sobre comportamentos seguros. “É um processo que estão fazendo, de construção coletiva”, informou a coordenadora de campo.
Jordan Santos Alves, de 14 anos é integrante do Nudec da Posse e participou de todo o planejamento e da própria ação de sensibilização. O jovem agente comunitário conta que à tarde, quando voltou pra casa, percebeu a ação de moradores queimando o lixo, sem cuidados e precauções.
Achei que devia intervir. Fui conversar e falei sobre a facilidade com que o fogo se espalha e o perigo de atingir outras casas da comunidade. Entreguei o panfleto distribuído durante a manhã, com informações sobre como agir em situações de queimadas e as punições legais existentes para cada caso. Muita gente não sabe que é proibido por lei”, relata.
Para Roberta, o sentido do Nudec é provocar essa atenção diária para situações simples que podem se tornar perigosas nas comunidades. “É a capacidade em perceber os riscos e sobretudo conseguir sensibilizar as pessoas sobre o que deve ou não ser feito. E, nesse sentido, entendo a ação de Jordan como fundamental para a prevenção de desastres socioambientais futuros”, completa.
O que é um Nudec?
O Nudec é um grupo comunitário e voluntário, organizado em um distrito, bairro, rua, edifício, associação comunitária, entidade, entre outros, e que participa de atividades de Defesa Civil. A instalação do núcleo é prioritária em áreas de risco de desastres e tem por objetivo organizar e preparar a comunidade local a dar a pronta resposta aos desastres, além de, em situação de normalidade, atuar no planejamento de ações de Defesa Civil que visem a proteção comunitária.
As principais atividades do Nudec são: incentivar a educação preventiva; organizar e executar campanhas; cadastrar os recursos e os meios de apoio existentes na comunidade; coordenar e fiscalizar o material estocado e sua distribuição; promover treinamentos; manter contato permanente com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – Comdec, e; colaborar na execução das ações de Defesa Civil.
É intenção que os núcleos tenham um caráter permanente, como forma de organização popular não só no período de emergência, mas também como forma regionalizada de atuação. O objetivo é complementar as ações da prefeitura e Estado no gerenciamento de áreas de risco e possíveis ameaças decorrentes de fenômenos naturais ou ocasionados pela ação do homem.
Alguns exemplos de ações preventivas e operativas dos NUDECs*:
- Auxiliar na identificação de pontos de alagamento e inundação para a alimentação do Mapa de Risco;
- Atuar junto à população para orientar e estimular a proteção ambiental, desenvolvendo e participando ativamente e campanhas de preservação do
meio ambiente, proteção de mananciais, cuidados com o lixo e prevenção de doenças de veiculação hídrica;
- Identificar na comunidade os pontos de referência para comunicação e informação à população;
- Fornecer à população informações sobre procedimentos em caso de chuvas fortes ou estiagem prolongada e seca;
- Observar a situação local quanto às condições de iminência de chuvas e seu agravamento;
- Manter atualizada lista de telefones de pessoas para contato em caso de emergência;
- Identificar na comunidade as pessoas passíveis de auxílio em situações de emergência;
- Identificar locais que poderão servir como abrigo em situações de emergência, e;
- Participar do planejamento de ações de Defesa Civil.
Saiba as comunidades de Petrópolis que já contam com Nudecs:
- Comunidade da Independência/Taquara
- Morin
- 24 de Maio
- Vista Alegre/Araras
- Vila Rica
- Posse
- Glória
- Bingen
- Vale do Cuiabá e adjacências (Gentio/Benfica/Madame Machado)
- Estrada da Saudade
Para participar de algum Nudec ou articular um em sua região, entre em contato com o projeto.
Fortalecendo a Resiliência aos Desastres na região serrana do Rio de Janeiro.
Contato: Tião Guerra (coordenador do projeto) – (22) 981349434
*Fonte: http://www.disaster-info.net/lideres/portugues/04/apresentacoes/alunos/daniela_lopes/NUDEC.doc

Inscrições prorrogadas edital para o Projeto Escuta NE
Com mais de 15 anos de atuação no campo social junto a profissionais de organizações da sociedade civil do Brasil, o Instituto Fonte lança o Projeto Escuta NE, que busca apoiar as organizações diante da atual conjuntura política-econômica-social do país.
Proposto pelas consultoras Helena Rondon (PE), Saritta Falcao Brito (PE) e Suzany Costa (CE), o Escuta NE tem como o propósito de oferecer uma oportunidade de aprendizagem organizacional sobre uma situação real que a organização queira entender e encontrar soluções para lidar melhor com ela. Além de oferecer também uma abordagem metodológica que poderá ser multiplicada por um grupo estratégico, para outros temas e equipes desta organização.
Por meio de escuta e facilitação diferenciada, com perguntas capazes de gerar novas reflexões, as consultoras do Instituto Fonte atuarão em duplas para apoiar o grupo de representantes na identificação de:
- quais elementos atuam nessa situação?
- que compreensões emergem ao revisitá-los juntos?
- que motivação isso gera em cada um?
- o que pode ser diferente numa próxima situação?
As organizações interessadas em participar do Escuta/NE deverão responder o formulário sobre qual a situação-problema que querem estudar e indicar uma proposta de data e horário para reunir a equipe envolvida, por até 4 horas, no período de 20 de setembro à 15 de outubro de 2017.
Serão contempladas 12 organizações, sendo seis em Pernambuco e seis no Ceará. O resultado será divulgado no site do Instituto Fonte em 20 de setembro.
As inscrições deverão ser realizadas no período de 01 a 15 de setembro.
Clique aqui para fazer sua inscrição!

Projeto Fortalecendo a resiliência divulga sua agenda do segundo semestre de 2017
Em cooperação com as Secretarias Municipais de Defesa Civil e Educação de Petrópolis e a Escola de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro – ESDEC-RJ, os eventos estão programados para acontecerem nas escolas e outros espaços públicos de Petrópolis
As ações propostas pelo projeto Fortalecendo a Resiliência aos Desastres na Região Serrana do Rio de Janeiro já foram implementadas em dez escolas municipais de Petrópolis, que representam diferentes territórios da cidade.
O projeto tem o objetivo de estimular redes comunitárias de redução de risco de desastres (RRD), com capacitação e estreitamento da cooperação entre escolas municipais e Núcleos Comunitários de Defesa Civil (Nudecs).
Para o segundo semestre, importantes ações de formação e mobilização das comunidades estão agendadas. Elas fazem parte da proposta de fortalecer a formação e o debate de temas estratégicos, envolvendo agentes locais e articulando ações capazes de reduzir os impactos gerados pelos desastres socioambientais.
A coordenadora de campo do projeto, Roberta Dutra, destaca a importância desses eventos em favorecer a integração dos segmentos envolvidos nas ações, como escolas e Nudecs. “Além disso, é importante dizer que essa agenda do segundo semestre é pública e teremos oportunidade de apresentar para sociedade e pra todos que acompanham o projeto as ações que estão sendo desenvolvidas desde o início, como a metodologia, as ferramentas construídas, os planos de ação, as práticas adotadas”, explica Roberta.
O encerramento do projeto ocorrerá em dezembro, com um seminário envolvendo escolas e comunidades participantes nos dez territórios de Petrópolis,assim como os parceiros e financiadores do projeto. Para esse seminário, serão convidados os demais municípios vizinhos da região serrana do RJ, para o compartilhamento dos aprendizados.
A tabela com todos os eventos do segundo semestre está no final da publicação.
Sobre o projeto: Fortalecendo a Resiliência faz parte de uma pesquisa mundial, que conta com apoio da C&A Foundation (Instituto C&A no Brasil) e coordenada pela Save the Children, e que engloba cinco países: China, Índia, Bangladesh, México e Brasil, sendo que no Brasil, o projeto ocorre em Petrópolis.
No Brasil, é implementado pelo Instituto Fonte e sua proposta consiste em integrar as ações de diferentes atores sociais: escolas, Nudecs, com a realização cooperativa de microprojetos em cada uma dessas dez comunidades. A sistematização da implementação do projeto nos dez territórios nos quais se propõe atuar,se transformará em um treinamento para os professores da Escola de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro (Esdec), sobre a construção de comunidades resilientes, a fim de tornar essa metodologia acessível para os demais municípios do Estado do Rio de Janeiro.
Informações: Tião Guerra (coordenador do projeto) – (22) 981349434
*as fotografias foram tiradas durante atividades de formação do projeto.

Artistas do Inominável
Ana Paula P. e Chaves Giorgi (1)
Explicar o que faz um profissional de desenvolvimento social (2) parece ser um esforço contínuo para expressar o inominável. Joga-se uma âncora nas tecnologias sociais aqui, um anzol nas teorias de desenvolvimento ali, faz-se um gancho com ONGs e Fundações reconhecidas acolá…
Mas, fazer entender que nosso ofício se baseia em aprender a viver a caridade (3) para fazer caber na alma o desenvolvimento de si e do outro, e desse encontro enxergar como transformar o mundo, é um pouco mais difícil. Para simplificar, hoje eu digo que sou DO LAR. Se, afinal, minha prática cotidiana demanda o contínuo exercício da humildade para aprender a ser caridosa comigo e com os outros para fazer caber na alma o desenvolvimento dos filhos de modo que eles transformem o mundo, a essência desse fazer não é a mesma?
A verdade é que não adianta falar o que fazemos. Fazemos o que somos. Mas, só nos tornamos aquilo que escolhemos fazer, se, conscientemente, na prática de todo dia houver a intenção de abrir espaço na alma para caber nosso desenvolvimento.
Parker Palmer (4) , um autor que escreve sobre educação, nos diz algo surpreendente: a educação sempre se preocupa com o que, como e para quê ensinar, mas raramente se dedica a se perguntar sobre QUEM ensina. Allan Kaplan (5) reitera a importância da atenção redobrada sobre aqueles que se veem lutando pelo “bem” no campo social: se não nos mantivermos intencionalmente acordados, acabaremos por fortalecer os padrões e comportamentos que nos comprometemos a mudar inicialmente.
Tanto para um autor quanto para o outro, abrir espaço interno e externo para reflexão sobre nosso fazer é o que nos torna capazes de nos transformar a ponto de transformar a realidade. Nesse sentido, nossa atuação no mundo requer uma boa parte de nosso tempo dedicado a formações, escrita, leitura, oficinas e exercícios – o que tende a ser visto pelos que nos rodeiam como perda de tempo, ainda reforçado pelo fato desse investimento de tempo não trazer retorno financeiro imediato. Agora, como explicar esse afazer do profissional de desenvolvimento social demonstrando o que há de palpável permeando esse trabalho inominável?
Goethe diz que quando a natureza começa a revelar seu segredo aberto para o ser humano, este sente um desejo irresistível pelo seu mais valioso intérprete, a arte. Parece-me cada vez mais nesses 20 anos no campo social, que quando a natureza humana começa a revelar seus segredos para nós, a arte torna-se um caminho inevitável. Que arte é essa?
Fui fazer um workshop de pintura. Três dias. O primeiro, desenho. O segundo, pintura a óleo em preto e branco. No terceiro, cores. Ignorante formal em quaisquer das três partes, saí da oficina pintando sofrivelmente, mas com uma noção clara do que significa fazer arte.
Para desenhar um cavalo de madeira colocado sobre a mesa, tenho que, simultaneamente, enxerga-lo como um todo e ver também suas partes separadamente. Tenho que apreender sua forma, intuir o movimento que vem das linhas conectando as partes, ver como as linhas opostas do seu contorno se relacionam, como as linhas invisíveis de suas tangentes se cruzam, medi-lo para compreender suas diferentes proporções. E fazer a mão, obedecer à intenção. Errar é inevitável; corrigir o erro a tempo é uma escolha, diz a professora.
Quando entro em uma nova situação social, preciso fazer semelhante tarefa. Um esforço consciente de observar minuciosamente o máximo de detalhes, simultaneamente tentando enxergar o todo. Preciso buscar ver as linhas invisíveis que entrelaçam as relações, sentir o que parece estar em movimento. Mas, além de tudo isso, preciso saber que estou errando para poder corrigir a tempo os pontos cegos ou turvos de minha percepção – por meio da interação com o outro que me ajuda a ver mais, ou da atenção redobrada às minhas próprias limitações. Goethe (6) diz que o observador sempre fica confuso quando olha para a superfície de um ser vivo, pois enxergamos apenas aquilo que conhecemos. Obedecer à intenção de enxergar sem permitir que a mente julgue ou interprete é talvez a mais árdua das tarefas.
Já para pintar em preto e branco, tenho que descobrir como a luz de uma foto faz variar a infinitude de tons que eu devo recriar para “resolver”, com pelo menos quatro tons, aquilo que escolho compor. As cores puras ficam como último recurso. Criar distância com o quadro é fundamental para entender o passo seguinte. Lixar a tela facilita muito o serviço. Inicialmente, para qualquer intervenção social, há que se polir a superfície para a ação, compondo com os envolvidos uma visão compartilhada da situação em que estão inseridos. Sem esse primeiro cuidado, qualquer imagem criada conjuntamente será comprometida pelas ranhuras ignoradas. Buscar luzes e sombras, reconhecer contrastes e variações de tons para enxergar mais da situação é um esforço necessário para permitir que a imagem da situação observada fale por si. Polaridades podem ser um recurso ilustrativo, desde que não pasteurize as nuances nos conduzindo a generalizações – que são tentações para que deixemos de sustentar a instabilidade gerada por essa percepção caótica. Movimentar-se para ver de perto e de longe a mesma situação coloca as coisas em perspectiva e ajuda muito a enxergar o que vem a seguir. A complexidade inerente a toda situação social exige que sejamos prolíficos no uso de recursos para lidar com ela. “Resolver” não significa achar solução, mas decidir, a partir do que nos é trazido pelo esforço de enxergar o que temos diante de nós, como queremos lidar com o caos.
Para pintar colorido, devo organizar a minha paleta com cores básicas e criar cores para enxergar apenas o que se destaca no mundo. Outras cores podem ser convidadas para essa paleta básica, mas convidados em excesso podem atrapalhar. Há três qualidades a serem observadas em cada tom: opacidade, temperatura e intensidade. Conhecer essas qualidades de cada um dos tons requer muito manuseio aliado à percepção. Segundo a professora, uma constatação artística surpreendente para um pintor é descobrir que, para retratar as cores do mundo, temos que usar muito mais cinza do que somos capazes de enxergar no mundo. Assim, as cores servem para escolher aquilo que quero ressaltar; é do contraste que surge a vivacidade. A escolha do que priorizar pertence exclusivamente à sensibilidade e ao desejo do artista.
Ah, as cores! Essas que nascem do encontro entre luz e sombra, trazendo o infinito como possibilidade. Essas que nos permitem enxergar o mundo, pois não vemos formas, segundo Goethe, e sim luz, sombra e cor! Essas, que tiraram de Goethe o reconhecimento como cientista por ousar se contrapor a Newton em sua teoria das cores, e lhe valeram um compêndio teórico para que o fenômeno pudesse falar sobre si mesmo a partir da experiência, sem a necessidade de se recorrer a abstrações. O que elas têm a dizer sobre nosso trabalho?
Ao profissional de desenvolvimento cabe a responsabilidade criar as condições para que as pessoas comecem a experimentar manusear as qualidades humanas disponíveis a dar cor e vida à imagem de futuro que querem projetar. Onde há maior ou menor transparência naquilo que fazemos? Onde o querer se manifesta com calor? Onde a intensidade se revela em ações sustentadas por um fazer coerente? O que ainda precisamos criar da soma das possibilidades que já temos?
Apoiar para que sejam contempladas as oportunidades de expandir limites e criar o novo, o único, o original. Aprender a acolher a multiplicidade incontável presente nos espaços das relações sociais para exercitar a abertura para que o outro, o diferente, caiba em nós. Lembrando que a escolha diante dessas possibilidades sempre caberá, única e exclusivamente, aos que vivem a situação, ao autor da obra. Nós, profissionais facilitando esse processo, talvez possamos ser o cinza presente, que contribuiu, em algum momento, para que as cores escolhidas se manifestassem, revelando sua identidade única e compondo um todo integrado.
No processo de pintar, rigor, ordem e disciplina eram demandados e com eles veio uma descoberta surpreendente: a liberdade. A liberdade surgia quando a compreensão virava experimento e experimento virava aprendizado. Mas entre cada etapa desse processo era necessária uma pausa de vazio, de ignorância, que me levava ao encontro de mim mesma, com minhas limitações e potenciais. Estar nesses espaços requisita audácia, coragem, paciência e uma prática consistente: só a experiência transforma.
A professora (7) é um espelho vivo dessas qualidades exigidas. Dona de uma prática profunda, trabalhada todos os dias. Ela partilha com generosidade seus aprendizados, facilitando o acesso que nos conduz em nossa própria direção. Não há dogma, mas ofertas de segredos abertos aos que aceitam praticar o ofício de modo estruturado, reflexivo, esforçado.
Senti que ser profissional de desenvolvimento social é essa arte de ser o seu ofício todos os dias para, a cada dia, refazer essa trajetória de desenhar e pintar a realidade, vivendo cada um dos desafios propostos por esses afazeres, acolhendo o vazio da ignorância para conquistar a liberdade. Goethe fala que a liberdade e a vida são dádivas dadas apenas àqueles que se dispõem a conquista-las novamente a cada dia. Será esse o produto de nossa arte? Ele também diz que a arte é mediadora do inominável. Se estivermos fazendo arte, o inominável será expresso!
Em essência, ser facilitador de desenvolvimento social é ceder ao desejo irresistível de revelar os segredos abertos da natureza humana e escolher conquistar a cada dia a dádiva da liberdade por meio da arte de mediar o inominável. Simples assim, não lhe parece?