Jornada no sertão pelo fortalecimento das OSCs
“Vocês conseguiram nos fazer enxergar um futuro melhor, limparam o espelho embaçado, nossa imagem estava turva e agora conseguimos nos ver e ver o nosso caminho, dando valor a cada passo”.
AnaNeyre, coordenadora da Associação Pisada Do Sertão
Uma experiência que tem representado muitos aprendizados. Em mais uma etapa da consultoria para organizações do Sertão Nordestino, uma parceria com a Fundação Itaú Social, as consultoras Helena Rondon e Suzany Costa, durante uma semana, compartilharam aprendizados, riquezas dos processos de planejamento e desenvolvimento institucional e também registros do caminho percorrido.
Essa nova etapa, de 13 a 19 de novembro, representou o retorno ao Cariri Cearense e o trilhar de um percurso até o Sertão Paraibano. As consultoras puderam se aprofundar nas histórias e atividades de duas importantes organizações: o Projeto Verde Vida e a Associação Pisada do Sertão.
O primeiro fica em Crato, no Ceará. O Projeto Verde Vida foi criado pelo artista plástico Marcos Xenofonte. Possui duas sedes: uma atua com adolescentes e jovens na zona urbana, oferecendo oficinas de música, dança, teatro, informática e a outro foi a primeira sede do projeto, no sítio Catingueira. Atua com crianças de seis a 12 anos com reforço escolar, artesanato, artes, horta, circo e atividades esportivas.
O Instituto Fonte está trabalhando o desenvolvimento institucional em um processo que envolve a coordenação executiva, educadores e jovens convidados para contribuir com o momento de reflexão sobre o caminhar da organização.
De lá, as consultoras partiram em seu rali pela Rota do Sol, no Sertão Paraibano, para facilitar o planejamento estratégico da Associação Pisada do Sertão, na cidade de Poço de José de Moura. A organização tem quase 20 anos de um trabalho de resgate e fortalecimento da cultura sertaneja. Curiosamente, tudo começou com um simples pedido da igreja local para uma apresentação de dança com o xaxado.
Hoje, há uma companhia de dança e uma de música, focadas na cultura sertaneja. A associação também atua na linha de educação integral e oferece reforço escolar, oficina de música, de dança, para crianças e adolescentes de cinco a 17 anos. O Instituto Fonte foi responsável por facilitar o planejamento estratégico para o período de 2019 a 2021.
Estivemos reunidas com a coordenação, diretoria, educadoras e educadores dos projetos. Dois dias de trabalho onde chegamos a começar o plano de ação, mas trabalhamos na reestruturação pedagógica e metodológica da organização, a partir da Teoria da Mudança. Foi um processo novo com a equipe, que envolveu muito compromisso e intensidade.
Suzany Costa
Nesta época do ano, a Pisada do Sertão desenvolve a Rota do Sol, grande evento que acontece em seis municípios no território. Consiste em um percurso de 10 dias, nos quais se apresentam muitos grupos e atrações regionais, de outros estados e até internacionais. É idealizado pela Pisada, mas é organizado junto a outras organizações públicas e o não-governamentais. A equipe cuida dos convites, das apresentações, ensaia. É um momento muito especial, não apenas pelo impacto cultural, mas pela geração de renda que provoca na região.
Foi uma experiência intensa que vivemos esses sete dias. Ter a oportunidade de contribuir com o desenvolvimento das pessoas e das duas organizações que realizam as suas atividades em locais que sofrem de tanta escassez é algo mágico. A troca é incrível. A cada momento, um aprendizado diferente, um desafio. Preparamos agendas de trabalho que precisaram ser modificadas algumas vezes, pois a realidade que encontramos por mais que tivéssemos nos preparado, sempre nos desafiava. Processos muito vivos. As poucas condições exigem dos profissionais locais muito movimento, força, energia, dedicação, amor abundante ao que fazem e isso não falta. Poder levar um pouco da nossa prática a esses locais e ver as pessoas despertando para um outro jeito de fazer ou até mesmo enxergando o seu fazer por outras lentes foi maravilhoso, emocionante. Essas equipes são com as matas secas que vimos por lá, qualquer foguinho vira um fogo imenso que se espalha rapidinho. É lindo de ver. No meio de toda aquela imensidão de terra seca aqui e ali, vemos algo verde que insiste e resiste se mantendo seco mesmo sem água. Assim é o povo do Verde Vida os jovens que sonham com um futuro diferente ali na sua terra, no seu local. Esse pontos verdes na paisagem representam esse povo iluminado que têm no seu trabalho , no seu fazer a razão de viver nesses locais. O sorriso de uma criança , a sua expressão de altivez quando toca um instrumento é o combustível para que o fogo no coração de cada profissional se alastra. Levamos algumas lentes mas trouxemos muitas imagens novas no nosso coração.
Helena Rondon