Sobre o nível de certeza no monitoramento de indicadores no contexto nacional
Luciana Petean (1)
É notável o uso cada vez mais corriqueiro de indicadores no nosso dia-a-dia. Basta percorrermos uma página de jornal e veremos a infinidade de dados quantitativos que permeiam e orientam nosso cotidiano.
Até mesmo no campo social, os indicadores constituem ferramentas legítimas para comunicar estados ou situações observáveis, permitindo comparações entre diferentes grupos, contribuindo para fundamentar ou até mesmo ajustar decisões e mudanças de rota.
No entanto, é preciso considerar que existem limitações atribuídas ao uso de indicadores. É preciso considerar a tendência de se tentar reduzir fenômenos complexos às suas partes mais simples ou visíveis, muitas vezes apresentadas por meio de números que pouco conseguem informar sobre a natureza subjetiva desses fenômenos.
Existem aspectos não visíveis, relativos à cultura local, à tradição ou mesmo ao processo de governo vigente, que podem influenciar ou determinar sua variação.
Outra questão relevante é a confusão entre o significado estatístico e o significado prático no monitoramento de programas. Podemos identificar claramente, no caso de algumas organizações, uma preocupação preponderante com o primeiro tipo, o que traz consequências e limitações na atribuição de significados à realidade social. Pois “se um estudo dispõe de uma amostra grande o suficiente, qualquer diferença aferida entre médias ou percentuais, por menor que seja, será estatisticamente significativa, mesmo que praticamente irrelevante”.
Dessa forma, o que em determinado contexto pode ser observado como um grande avanço, em outros, talvez, pode significar apenas um pequeno passo em direção a um objetivo muito maior. Vale destacar também que “qualquer interpretação está sempre carregada da visão de mundo, bagagem intelectual ou ideológica de quem a faz”.
Sem dúvida, o uso irrestrito de indicadores sociais como instrumento de ‘ranking’ entre diferentes cidades pode representar um grande risco, a despeito da diversidade geográfica, demográfica, cultural e mesmo histórica, encontrada nesses contextos. No entanto, poucas são as equipes que dedicam tempo e energia na construção de indicadores sistêmicos relevantes e preocupam-se com sua adequação no tempo.
Em geral, são privilegiados os aspectos tangíveis e visíveis, deixando de fora os elementos qualitativos e de natureza subjetiva, que tendem a perder relevância por pressão de tempo ou de recursos.
Nesses casos, é comum ainda prevalecer na organização a percepção da avaliação de programas como uma prática predominantemente técnica, que demanda a contratação de especialistas gabaritados, que conduzem a aferição dos resultados de maneira isolada ou à distância e emitem pareceres e recomendações. Para o Instituto Fonte, entretanto, são as próprias organizações que melhor conhecem a situação em que vivem e atuam.
Percebemos que existe muito conhecimento na prática cotidiana das pessoas e, a partir de processos participativos, buscamos favorecer uma oportunidade única de construir capital social nas organizações. Nesses espaços, a aprendizagem coletiva e a ampliação de habilidades técnicas permitem que as práticas organizacionais e sociais se tornem mais consistentes e relevantes e, assim, contribuam para o fortalecimento da iniciativa.