Escutar sobre a escuta…

Experimentar, vivenciar, escutar sobre a Escuta… Esses foram alguns enfoques do LAB Escuta Nordeste, atividade responsável por encerrar o ciclo de quase dez meses desde o desenho da metodologia, o lançamento do edital, a escolha das organizações, da escuta presencial, da análise atenciosa e da devolutiva vivencial.

O LAB Escuta NE aconteceu em Fortaleza e em Recife e contou com a participação de muitas organizações, tanto aquelas selecionadas pelo edital, assim como outras interessadas no processo e metodologia e também consultores e pessoas interessadas em facilitação.

As dinâmicas foram conduzidas pelas consultoras Helena Rondon, Saritta Falcão Britto e Suzany Costa, com a parceria de Cristiane Félix, integrante do Grupo Recife de Aprendizagem. De acordo com Helena, esse momento teve como propósito reunir organizações e aprender mais sobre o que foi interessante e inovador no processo, assim como angariar sugestões e percepções para a próxima edição.

O exercício proposto serviu para mostrar o que representa o escutar dentro da proposta metodológica do Fonte. “Realizamos um exercício clássico de nossos processos de formação, que se chama ‘falar e ouvir’. Em trios, um participante levanta um assunto, o segundo debate e o terceiro observa o diálogo. A regra é, antes de falar algo novo, repetir o que disse o outro. Nesse processo, o grupo todo observou fenômenos importantes que surgem dessa interatividade”, explicou Suzany.

Como surgiu o Escuta NE?

Proposto pelas consultoras Helena Rondon (PE), Saritta Falcao Brito (PE) e Suzany Costa (CE), o Escuta NE tem como o propósito de oferecer uma oportunidade de aprendizagem organizacional sobre uma situação real que a organização queira entender e encontrar soluções para lidar melhor com ela. Além de oferecer também uma abordagem metodológica que poderá ser multiplicada por um grupo estratégico, para outros temas e equipes desta organização.

“Diante do emaranhado de mudanças que vimos assistindo há pouco mais de um ano no cenário político-institucional do país, do seu impacto na desconstrução de programas sociais e retrocesso na conquista de direitos, nos pareceu importante abrir um ambiente de ‘ouvidoria Fonte’. Algo que nos ajudasse e às organizações a ver mais sobre o momento e seus desdobramentos. Algo que apresentasse aos atores sociais de Pernambuco e do Ceará o diferencial desse jeito do Instituto Fonte de atuar”.

Saritta Falcão Brito, consultora do Instituto Fonte

 

Construindo percepções

Como a proposta era levantar impressões e também exercitar as escutas com as pessoas, reunimos algumas falas de participantes do LAB Escuta NE no Ceará e também em Pernambuco. Acompanhe algumas reflexões e impressões:

“Estamos em uma loucura em nossas organizações que está difícil a gente se escutar. Eu não participei do processo do Escuta Nordeste, apenas do evento de devolutiva e surpreendeu a pluralidade dos temas e dos campos das organizações parceiras.

Os relatos demonstraram como despertou processos de autocrítica, correção de metodologia ou de percurso. Nesse momento de crise, acho que foi muito válido o fato do projeto ser pró-bono, pois desperta a lógica da cooperação e solidariedade. Não apenas, algumas dessas questões aparecem provocadas também pela crise e, não fosse essa oportunidade, dificilmente teriam possibilidades de lidar com essas situações.

Foi minha primeira oportunidade de conhecer o Instituto Fonte. Fui conhecer a metodologia, os conteúdos, materiais, pois fiquei impressionada com a facilidade em dialogar com as organizações e o grande domínio e conhecimento das consultoras”.

Eveline Nogueira Augusto, assessora do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável do Ceará, cientista política e educadora popular.

 

“Fomos uma das quatro instituições selecionadas para o Escuta Nordeste. Escolhemos o tema gestão, que estamos trabalhando com muito afinco há uns três anos. Implantamos muitas mudanças e queríamos avaliar se nossas decisões estavam em um rumo correto. E achávamos bom fazer isso com pessoas de fora. Coincidiu com o momento do Escuta NE, do Instituto Fonte, que a gente já tinha referência.

Foi muito importante fazer esse processo com uma ferramenta tão simples, mas que às vezes a gente esquece por conta desse contexto de muito trabalho, muita atividade no qual corremos e esquecemos de escutar, olhar, observar, sentir, respirar.

Colocamos em nossa pauta como organização ‘o observar’ mais dentro, as pessoas e como as coisas estão se dando, com um olhar mais calmo, levando em consideração os sentidos. É como se a gente tivesse parado um pouco para nos olhar e começar de uma forma diferente, de uma forma mais cuidadosa. Não que a gente não fosse. Mas a pressa com tudo, o pouco tempo para dar conta de tudo fazia com que a gente deixasse de priorizar o cuidado.

A metodologia desse projeto e do Instituto Fonte eu considero simples e fundamental. A reflexão sobre nossas práticas, a partir de uma escuta mais ativa, do falar o necessário provoca um ‘fazer de outra forma’ que leva em consideração o todo, com respeito e cuidado.

É importante trazer pra consciência a velocidade que a gente vive e o Escuta nos chama a parar um pouco para escutar melhor, fazer melhor, ampliar olhares e conviver melhor. Eu achei fantástico o momento. Eu acho necessário para as OSCs e para qualquer outro campo que atua em grupo e com grupos.

Eudázio Nobre, 35 anos, gestor administrativo do Idesq –  Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Qualificação Profissional, de Fortaleza

 

“O Escuta NE foi um momento bem prazeroso, que a gente pode realmente se escutar e rever alguns processos que estávamos fazendo, principalmente na área da mobilização de recursos. O momento com as organizações reunidas foi mais um de fortalecimento, de ver o nosso conjunto e que estamos nos mesmos processos, nós organizações que integramos o movimento social.

O projeto é louvável, tanto o momento na instituição, como todos reunidos pra fazer esse alinhavar da escuta. Foi um momento de escutar, de poder dizer novas possibilidades e, além disso, foi interessante, revigorante e prazeroso”.

Fátima Pontes, mestre em Educação e coordenadora Executiva da Escola Pernambucana de Circo

 

“Fizemos uma análise conjunta de um elemento que queríamos avaliar e fazer isso com o Instituto Fonte foi muito mais rico do que apenas fazer internamente apenas com pessoas da organização. Esse olhar externo levantou questões para refletir e tomar um posicionamento estratégico sobre a continuação do nosso programa e de possíveis mudanças. Foi muito enriquecedor para a organização, porque foi uma avaliação complementada por um olhar que analisa e indica reflexões que tem a ver com o processo do serviço que estávamos prestando.

Na devolutiva, nós tivemos a oportunidade de vivenciar um formato de laboratório do próprio exercício de escuta. Então, pra mim significou um aprendizado e uma reflexão: ‘por que é que, continuadamente, nós queremos só dar respostas?

O ato de ouvir pede um exercício de desapego, de abertura e foi muito bom viver isso nos grupos e partilhar nossas conclusões, compreensões e reflexões com outras organizações. O que indicaria para uma próxima versão: precisaria de mais tempo. No mínimo uma jornada de oito horas com cada instituição.

Maria Clezia Pinto de Santana, Diretora de Articulação Sócio Político Institucional do Polo Empresarial Ginetta

 

“Participar de um dos momentos do Escuta Nordeste foi bem gostoso. Sendo jornalista, sei que muitas vezes a gente mais fala do que escuta, inclusive somos cobradas por isso. Ouvir é o início de tudo pro jornalismo (e pra comunicação, por que não?), mas muitas vezes esquecemos disso. Como contar histórias sem ter ouvido direito? Comunicação é aprendizagem e participar de um momento exclusivo sobre ouvir me ajudou a intensificar esta certeza”.

Roberta França, jornalista profissional na Adelco – Associação para o Desenvolvimento Local Co-produzido

Fique atento para o Edital 2018!