Mulheres discutem Gestão de Risco de Desastres em Petrópolis
Mulheres interessadas e envolvidas em temáticas ligadas a desastres socioambientais estiveram reunidas na tarde da última segunda (02/10) para uma roda de conversa, na Casa Cláudio de Souza, em Petrópolis. O encontro foi promovido pelo projeto Fortalecendo a Resiliência, com o objetivo de estimular a troca de experiências a partir do ponto de vista da mulher, compartilhando boas práticas e discutindo dificuldades e desafios no papel que elas vêm exercendo na mudança de comportamento frente ao risco de desastres nas comunidades e nos espaços em que atuam.
Estiveram presentes quinze mulheres de comunidades e escolas públicas de Petrópolis em que o Projeto acontece, além de representante da Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ações Voluntárias, parceira estratégica do Projeto, da equipe executora do Fortalecendo a Resiliência e também das coordenadoras mundiais Sarah Sabry e Loreto Barceló, da ONG internacional Save The Children, que estavam no Brasil para acompanhar as ações em curso.
O bate papo teve início com a discussão sobre como é percebida a vulnerabilidade de mulheres e crianças em uma situação de desastre. A troca de informação e experiência mostrou como aquelas mulheres são movidas pela solidariedade e pelo instinto em um desastre e, assim, o quanto a falta de preparação, ou seja, não saber o que fazer e como fazer as deixam em situações de maior risco e vulnerabilidade. “Na última chuva forte que tivemos lá na comunidade eu entrei na casa de uma família com água até o peito, para tirar as pessoas que moravam naquela casa, inclusive crianças. Eu nem pensei, simplesmente fui. Hoje percebo que não podemos agir por impulso. Precisamos nos informar, nos capacitar, nos preparar para apoiar nossa comunidade e também não colocarmos nossa vida em risco. Hoje, mais preparada, não faria da mesma forma”, contou Ana Maria Pacheco, 45 anos, moradora e membro do Núcleo Comunitário de Defesa Civil – NUDEC do Gentio, no Vale do Cuiabá, em Itaipava, e que participa do projeto Fortalecendo a Resiliência.
Elas conhecem as suas comunidades e vivenciaram desastres. E nesta roda de conversa uma voz foi comum: todas as mulheres entendem que mais informação e preparação é fundamental para que haja mais segurança, menos desespero e menos vidas perdidas em situações de desastres. “Na nossa comunidade já vimos histórias muito tristes quando vem a chuva forte. Mas as pessoas não têm informação, não sabem o que fazer”, disse Maria das Graças Aquino, conhecida como Dona Graça, moradora e membro do NUDEC de Vista Alegre, em Araras, criado com o apoio do Projeto Fortalecendo a Resiliência. “Mas nós não queremos sair de lá. Agora com mais informação é que queremos mesmo ficar, para ajudar outras pessoas, passar a informação, para que elas tenham mais segurança e possam também dar segurança às suas famílias. Se formos embora, não estaremos exercendo nosso papel”, complementou Ketlen Santos, 20 anos, moradora e membro do NUDEC Juvenil de Vista Alegre, também recém-criado. “Não queremos ser tiradas de onde estamos. Temos laços afetivos com nosso lugar e as pessoas. Precisamos sim nos preparar mais, estarmos mais unidos para enfrentar um desastre. E é nisso que trabalhando, apesar de nem sempre ser fácil mobilizar a comunidade”, acrescentou Ana Paula Guedes, moradora e membro tanto do NUDEC como do Comitê de Segurança Escolar de Vila Rica, em Pedro do Rio, ambos criados com o apoio do Projeto.
Contribuindo com esta reflexão, Maria Alice Oliveira da Silva, jovem de 22 anos, membro do NUDEC do Gentio, trouxe à discussão o cenário de cidades norte americanas com os furacões, observando a mobilização da população: “Acompanhando pela televisão, eu percebo o quanto todo esse trabalho que reúne comunidade e poder público reduz os riscos, salva vidas, porque além dos sistemas de alerta, as pessoas sabem o que fazer. Aqui não temos nem esta cultura e nem a estrutura e nós moradores precisamos desse apoio”, avaliou Maria Alice. “Informação é muito importante, mas as pessoas precisam de mais. Quem vive em área de risco precisa também vivenciar, simular uma situação de desastre, porque aí sim vão entender o que é pra fazer quando for preciso”, complementou Ana Angélica Brendolin, moradora, agente de saúde e membro do NUDEC da Posse, também criado com o apoio do Projeto Fortalecendo a Resiliência.
Maria Luisa dos Anjos Silva, arquiteta da Secretaria Municipal de Defesa Civil, participou da roda de conversa e avaliou como mais uma boa oportunidade de aproximar a Defesa Civil não somente das necessidades, mas também das ações que vêm acontecendo nas comunidades. “Foi produtivo e agradável e eu fiquei positivamente surpresa de ver como algumas comunidades têm sido representadas por pessoas engajadas e melhor preparadas para o risco. Temos buscado estar mais próximos das comunidades para apoiar as pessoas, que às vezes precisam de ajuda em questões simples. E, estar por perto nos permite também entender as necessidades daquele lugar, o que nos dá melhores recursos para agirmos preventivamente”, explica Maria Luisa.
Para Tião Guerra, coordenador do Projeto Fortalecendo a Resiliência, as mulheres são fundamentais para as mudanças de comportamento frente aos riscos de desastres. “Temos percebido como as mulheres petropolitanas são engajadas quando o assunto é segurança e redução de risco nas suas comunidades e o quanto elas são polinizadoras, fazendo uma alusão às abelhas. Porque mais do que aprender, elas querem disseminar, ampliando a capacidade do local onde vivem. Todos da equipe somos gratos por realizar este trabalho e por apoiar essas mulheres incríveis em trocas de experiências sobre tema tão relevante para elas, suas famílias, comunidades e cidade”, avalia Tião.
Ao final, as mulheres conversaram sobre ideias e práticas que vêm dando certo em suas comunidades, inclusive compartilharam iniciativas recém realizadas por um Núcleo Comunitário de Defesa Civil que foram inspiradas em ações feitas por um outro. “Nós fizemos uma campanha de informação e esclarecimento no transbordo de Itaipava, porque vimos o quanto deu certo o que o NUDEC da Posse fez para sensibilizar moradores de lá sobre a situação das queimadas”, contou Cristina Rosário, membro do NUDEC do Gentio. “Estar aqui, trocando experiências, é fundamental para melhorarmos nossa capacidade de agir diante de um desastre”, concluiu.
No próximo dia 11 de outubro, estas mulheres estarão novamente reunidas no I Colóquio da Defesa Civil de Petrópolis, que acontecerá na FASE e discutirá saberes e experiências comunitárias, profissionais e científicas. Neste dia, à tarde, haverá uma mesa dedicada a gênero e redução de risco de desastres, trazendo a experiência das mulheres na formação de NUDECs.
Projeto Fortalecendo a Resiliência
Fortalecendo a Resiliência é um projeto que acontece desde outubro de 2016, em Petrópolis, com o apoio do Instituto C&A, coordenado pela ONG Save the Children e implementado, no Brasil, pelo Instituto Fonte. Local e regionalmente, tem como parceiros estratégicos as Secretarias Municipais de Defesa Civil e Ações Voluntárias e de Educação de Petrópolis e a Escola de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro – ESDEC. O objetivo é estimular redes comunitárias de gestão de risco de desastres (GRD), com capacitação e integração entre comunidades escolares e Núcleos Comunitários de Defesa Civil (Nudecs), em dez territórios de Petrópolis: Posse, Pedro do Rio, Araras, Estrada da Saudade, Bingen, Morin, Alto Independência, Itaipava/Vale do Cuiabá, Corrêas/Nogueira e Centro (24 de Maio).
Fortalecendo a Resiliência faz parte também de uma pesquisa mundial que engloba cinco países: China, Índia, Bangladesh, México e Brasil, sendo que no Brasil, o projeto ocorre apenas em Petrópolis.