A canoa, o mar e uma boa navegação para 2017
O final de 2016 chegou. E o Instituto Fonte preparou uma mensagem que, muito além de tratar da necessidade de avaliação e planejamento para o próximo ano, nos incentiva a refletir sobre nossa constante formação como “órgãos de percepção e atuação” no mundo. Aproveite a leitura do artigo da consultora associada Martina Rillo Otero, que também será facilitadora da próxima edição do Profides!
Como presente de final de ano, disponibilizamos, gratuitamente, a publicação “Mantenha a avaliação longe da gaveta!”. Boas leituras e boas festas!
Estaremos em recesso a partir de 24/12/2016. Retornamos em 04/01/2017.
Martina Rillo Otero*
Fim de ano, fim de um ciclo.
Nesse período é comum pararmos para refletir sobre o sentido da nossa atuação no mundo, tanto procurando entender o que fizemos no último ano, quanto encarando a análise de períodos mais amplos.
Temos um metrônomo que bate a cada ano, que é apoiado numa vivência da natureza e o ciclo que fazemos em torno do Sol. Um ritmo. E nesse encontro que fazemos conosco mesmos num momento passado, paramos para avaliar e para estabelecer novos rumos, lançando nosso olhar também para o futuro.
Queremos fazer melhor no ano que vem, no ciclo que vem. Por isso, medimos, avaliamos, planejamos, ponderamos e decidimos.
- Que resultados alcançamos?
- Qual foi a lógica da nossa atuação?
- O que vamos fazer o ano que vem? O que pode ser mantido? O que precisa mudar?
- E que mudança queremos alcançar? O que precisa acontecer e como vamos fazer o que é necessário?
Muitas ferramentas, metodologias e até princípios gerais nos ajudam a organizar esse fazer. Estratégias de mensuração e análise que foram colocadas em prática durante todo o ano encontram um momento de suspensão, para que possamos construir uma imagem ou um juízo e novas orientações possam surgir. Análise de stakeholders, construção de cenários, novos objetivos, desenhos de estratégias nos preparam para um novo ciclo. Revisão da lógica da atuação, explicitação de crenças, re-alinhamentos sobre como entendemos que nossa atuação produz mudanças. Avaliação, Planejamento, Teoria de Mudança, Marco Lógico, Design Thinking.
Todos são meios para alcançarmos um novo patamar de atuação e nos aproximarmos daquilo que, em nossa crença, produzirá o que buscamos até a chegada de um novo ciclo, quando suspenderemos mais uma vez o fazer e celebraremos a vida, com seus eternos acertos e equívocos. Re-iniciaremos o processo, talvez mudando métodos e meios, em busca de realizarmos aquilo que é nosso potencial.
O Instituto Fonte está sempre a procura de se apropriar e aprender a manejar essas ferramentas e metodologias. Acreditamos serem elas como a canoa perfeita, feita de material ideal, desenhada e cortada precisamente para permitir uma boa navegação. São processos necessários e fundamentais para qualificar nossa prática uma boa Avaliação, uma boa Teoria de Mudança, um bom Planejamento Estratégico e Operacional, um bom esquema, boas recomendações.
Apesar de necessário, não acreditamos que tudo isso seja o suficiente, afinal…
- Fiz um planejamento, mas como gerar compromisso na equipe com o que foi estabelecido? Como o planejamento pode funcionar como uma orientação dos nossos esforços?
- O que podemos aprender a partir da reflexão sobre nossos resultados? Como fazer a diferença ao redirecionar nossas ações?
- Como nossa Teoria de Mudança pode expressar não apenas uma lógica consistente mas, especialmente, nossa essência e nossa identidade? Como o que pensamos pode expressar quem somos nós de fato?
Essas são perguntas que, na nossa experência, emergiram ao criarmos espaços de reflexão significativos nas avaliações, planejamentos ou construção de Teorias de Mudança. Ferramentas e metodologias são fundamentais, mas a qualidade de sua utilização depende das habilidades dos que as utilizam.
A canoa pode ser perfeita, mas as habilidades do marujo em dirigí-la, em perceber os sinais do clima, o cheiro do movimento do mar que ainda não chegou, em escutar o silêncio do céu antes da tempestade também são fundamentais para uma boa navegação…
Além das ferramentas e metodologias, temos apostado de maneira insistente e confiante no desenvolvimento de habilidades dos profissionais, dos grupos e das organizações que nos acompanham em processos de consultoria ou formação. Uma organização buscou um processo de avaliação e nós conduzimos o processo de forma a que a equipe aprenda a elaborar instrumentos de coleta e a analisar dados. Ou ainda, uma outra organização precisa construir sua Teoria de Mudança, nós propusemos uma ampla leitura de contexto coletiva, um exercício de identificação de causas e a apresentação dos resultados alcançados pela equipe à Diretoria.
Nossas formações envolvem exercícios de observação da natureza e de processos sociais, além do treinamento das nossas capacidades em dar feedbacks e fazermos perguntas.
Nossa experiência tem mostrado que desenvolver a capacidade de perceber o que acontece ao nosso redor, especialmente observando o que é visível e também invisível, escutando o dito e o não dito, traz resultados melhores. Igualmente necessário é exercitar habilidades sociais básicas e essenciais, como a capacidade de se comunicar e intervir. As capacidades de atuação de um indivíduo, de um grupo ou de uma organização também estão relacionadas com a compreensão e a delicada aceitação de como o que é externo a nós reage a nossa atuação – seja fazendo ou não fazendo. E a incorporarmos essa aprendizagem…
É necessário prestar atenção na intensidade e ângulo da remada, na reação da água a cada movimento e na “propriocepção”, isto é, como registramos no nosso próprio corpo toda essa interação. Trata-se de aperfeiçoar a principal ferramenta de atuação, que é cada um e todos nós.
Nesse momento de suspensão e de férias, celebrações e reflexões, desejamos a todos que possam descansar e olhar para si como instrumentos de percepção e ação no mundo. Que possamos ponderar com que qualidade temos interagido com os outros que nos acompanham e com o mundo no qual estamos imersos.
Como presente de natal também gostaríamos de deixar a publicação “Mantenha a avaliação longe da gaveta!”, para ajudar que as avaliações deste final de ano sejam muito significativas para 2017, 2018, 2019…
* conheça mais sobre Martina Rillo Otero e dos outros associados do Instituto Fonte aqui.