A ressignificação das práticas sociais

Juliana Cortez (1)

 

Meu interesse e minha atuação no campo social foram marcados por uma formação em empreendedorismo social que realizei, em 2001, em parceria com o Instituto Gaia. Começava o século XXI ao mesmo tempo em que o universo do campo social se revelava diante de mim. Empreendi iniciativas de formação para Juventude como o projeto Guardiões do Oceano e também comecei a buscar formações nas quais eu mesma pudesse me formar.

Comecei a carregar comigo um questionamento: Afinal como eu aprendo o que apreendo? Esse questionamento surgiu à medida que me percebia como educadora e facilitadora de pequenos grupos de adolescentes, ao mesmo tempo em que um sentimento de responsabilidade crescia em meu peito. Os modelos de aprendizagem formal haviam me ensinado a memorizar e a passar em provas e vestibulares, mas algo em mim dizia que memorizar não era aprender a pensar de fato.

Em 2002 uma colega, Mariana, que me auxiliou a desenhar a proposta pedagógica do Guardiões do Oceano, me introduziu um jeito novo de produzir e compartilhar conhecimento. Eu disse que queria saber mais, e ela me indicou para participar do Seminário de Pedagogia Social, no qual membros do Instituto Fonte também estavam presentes no grupo facilitador. Foi nessa imersão que entrei em contato com formas participativas de aprender: o conhecimento estava no grupo e não somente no facilitador/educador.

O Instituto Fonte tornava-se conhecido como uma instituição com grande capacidade de formar e influenciar atores e instituições do terceiro setor, que se encontrava em significativa expansão. Ele orbitava o meu campo de atuação e eu orbitava a prática social dele. Foram muitos os encontros: em livros e publicações, em formações, em congressos, em pessoas. Hoje eu não orbito tão somente, mas sou parte do Planeta Fonte como uma de suas consultoras associadas.

O campo social já não é o mesmo de outrora, mas se encontra mais preparado, mais consciente, e ao mesmo tempo, tem que aprender a lidar com incertezas de outra natureza, diferentes daquelas dos anos 2000. Estamos atualmente com os sentidos em alerta para entender o que o mundo pede de nós enquanto organização, enquanto consultores, facilitadores e empreendedores… 

Que a trajetória dessa geração que ingressa no campo social possa contribuir com esse processo de ressignificação das iniciativas sociais, do campo social e, principalmente, de nossa própria prática como profissionais de desenvolvimento.

Este artigo integra o Relatório de Gestão 2015-2016, um importante instrumento de reflexão e aprendizagem do Instituto Fonte. Para ler outros textos ou baixar o relatório, clique aqui.

 

(1) Facilitadora de processos de aprendizagem e associada ao Instituto Fonte desde 2015. Desde 2002 atua em iniciativas e instituições  sociais que militam pelas causas da juventude, educação e do meio ambiente nas áreas  de formação, elaboração de projetos e mobilização de recursos. É idealizadora e gestora do Guardiões do Oceano, uma iniciativa de formação socioambiental para jovens que acontece há 10 anos em municípios do litoral de São Paulo. Também atuou como facilitadora na área de responsabilidade social de diversas empresas. Mestre em Saúde Pública pela Universidade  de São Paulo, com pós-graduação em Educação Ambiental pela mesma universidade e especializada em gestão do terceiro setor pela FGV. Se formou nos programas do Instituto Fonte, Artistas do Invisível e Aprimora e atualmente é mestranda no Programa “Reflective Social Practice” pela Proteus Initiative e Alanus University (Alemanha). Acredita que o  processo é o lugar a se chegar. Contato: juliana@institutofonte.org.br