Investimento Social Privado olhando para o advocacy

Alguns aspectos do diálogo entre as práticas que tratam de assuntos sociais de interesse público puderam ser debatidos durante a mesa “Advocacy e incidência pública: dilemas e princípios para a construção de práticas efetivas”, durante o X Congresso Gife, na Fecomércio, em São Paulo.

Andrea Gozetto, cientista política, Rafael Gioielli, do Instituto Votorantin, Giuliana Ortega, do Instituto CEA e o mediador André Degenszajn levantaram aspectos da ação e dos desafios dos institutos e fundações empresariais para construir práticas pautadas nas falas das comunidades.

Um dos itens destacados foi o desafio da articulação do próprio setor responsável pelo Investimento Social Privado, como enfatizou Rafael Gioielli. A partir da experiência no campo da educação, foi possível para o gestor exemplificar a necessidade de cuidar dos caminhos comuns para influenciar política pública. “Muitos atuam com educação, mas somos diversos em nossa atuação enquanto institutos e fundações e precisamos ter capacidade de falar em conjunto também”, articulou o gestor.

Giuliana Ortega destacou a ação do IC&A no fortalecimento das parcerias com organizações da sociedade civil. “Geralmente são as organizações que estão próximas dos públicos beneficiários de nossos projetos e que são capazes de estabelecer um diálogo mais fiel com o poder público”, explicou. Para ela, muito mais do que financiar projetos, o Investimento Social Privado precisa apoiar a capacitação e formação das próprias organizações.

De certa forma, os olhares são similares para a construção de processos transparentes e capazes de evidenciar a “causa que defendo” e “por que defendo”. Boas práticas de condutas para as fundações e organizações são importantes para fortalecer a legitimidade tanto da ação, quanto da parceria.

Grilo falante: Nesse caminho, outro ponto destacado foi o possível benefício do alinhamento da ação do instituto ou fundação empresarial com o próprio negócio. Para os debatedores, a partir desse processo é possível pautar questões que vão influenciar na mudança de comportamento da empresa, como por exemplo, na temática racial ou de gênero. “Essa retroalimentação pode ser benéfica. Ter o grilo falante sobre sua própria prática é muito importante”, disse Gioielli. “E os institutos acabam funcionando como provocadores de mudanças dentro da empresa, que reverberam em novas práticas”, finalizou.

Construir boas práticas de advocacy: Para influenciar em políticas públicas, assim como em outras áreas, é necessário desenvolver planos e caminhos de ação para que a incidência também possa ser estruturada, acompanhada, medida e avaliada ao longo do tempo. Para Andrea, o melhor é evitar uma ação intuitiva. “Devem ser construídas coletivamente propostas de incidência, que não podem ser lideradas pelas empresas. As comunidades têm que falar por elas próprias”, esmiuçou durante sua fala. O que os institutos podem fazer, na visão da cientista política, é fortalecer as próprias comunidades, investindo, por exemplo, em formações. “Além disso, fortalecer as redes, na minha opinião, é a grande contribuição dos institutos e fundações para a democracia”, encerrou.

Outros pontos do debate:

  • As organizações sociais também precisam cuidar das parcerias, avaliar a ação das empresas e dos institutos, para minimizar as relações de poder e fortalecer relações dialógicas, nas quais as organizações da sociedade civil sejam reconhecidas em sua ação e capazes de influenciar, em reciprocidade, na ação dos institutos e das empresas.
  • A organização empresarial deve conversar com o beneficiário enquanto está construindo seu plano de ação e não após delimitar todo o seu campo de ação.
  • É fundamental fortalecer a representação democrática das organizações da sociedade civil.
  • Favorecer políticas públicas baseadas em evidencias a partir da produção do conhecimento como prática constante.